janela #2

Ao sétimo dia. 
Ainda pensei que eles repousassem as mochilas, não saíssem em barda da carrinha de caixa aberta e parasse a grua sobre os telhados do Lumiar. Mas não. Voltam a cada dia e eu acredito mais um dia. Hoje é a minha vez.
Cheira a café e torradas no hall e tento desviar o pensamento dos objectos em que toco, para essa memória de outras manhãs, em que aquele cheiro inundava uma outra casa que não mergulhava em solidão.
Desço a calçada, enquanto agora penso naqueles que já não perdem horas no trânsito e que vejo sempre quando vou no meu inverso. Estarão saudosos do para-arranca?
E vou em silêncio, sem notas de trânsito, sem rúbricas de variedades ou música, tão pouco. Já tudo me cansa, mesmo o ruído que domino e escolho com a ponta dos dedos.
Vou e quando paro no semáforo olho para o carro do lado. E ainda se sorri, afinal, e é de pôr na lista dos milagres. Não queremos por nada deste mundo que ela diminua.



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