janela #3

Da janela, lembro-me quando ia correr, e de todas as vezes em que pensei guardar a memória sobre aquela papelaria da esquina do prédio, umas ruas mais acima.
Vai para quatro anos que cá estou e talvez tenha o mesmo tempo o meu fascínio por aquela montra, pela luz que permanece ligada toda a noite como se de um verdadeiro negócio activo se tratasse. 
O prédio é moderno, em frente à escola, e por estes dias até lhe vi movimento no rés do chão, que aparenta ser os preparativos da abertura de um café. E mesa de bilhar terá, que já a puseram, junto à vidraça. 
Entretanto, o sol continuará a roubar as cores dos postais que continuam no expositor da papelaria, das cartolinas de diferentes cores e tamanhos, das mochilas com bonecada que ainda dão alegria àquele espaço que parece ter vida e não ter. Chego, até, a pensar no cheiro a lápis de cor, se lhe abríssemos a porta. No cheiro das borrachas verdes, ou das brancas, que cheiravam a adocicado e dava vontade de comer. 
Nunca parei, para espreitar com mais detalhe todo o material que ali ficou, por razões que vou lançando tantas vezes quanto as passadas na minha descida até casa. Imagino até o último dia em que a porta se fechou, ou por um infortúnio, uma urgência, uma desgraça ou algo tão bom que o que fica para trás de nada importa.
Resta aquela montra que, numa fotografia, tudo faria parecer sépia. Onde terão as aranhas feito a sua teia? 
E que dono ou inquilino não se furta a pagar a conta da energia para que o abandono de um negócio prossiga iluminado? Tanto quanto a minha curiosidade.




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