janela #4

Testei aquele exercício do step na cadeira e voltei  a esticar-me no sofá. 
A gata aninhou-se nas minhas pernas e recebo a mensagem sobre a tal app dos convívios ou jantares digitais.
Mas o que se passa com as pessoas? Que angústia é esta de não saber ter cinco minutos de silêncio, de estar sozinhos entre quatro paredes? 
E então lembrei-me do que se passou há umas semanas. 
Contornei a Sé, no Funchal, desci a praceta, entrei na rua do restaurante que pesquisara na internet e chegada à porta do mesmo fui recebida por um empregado de bom ar, avental moderno que me estendeu o braço em frente quando lhe disse  - é para jantar, para uma pessoa.
Subi as escadas de madeira, e entrei na sala ampla, de luz quente, com apenas uma mesa ocupada. Vi o ambiente rústico que convidava a ficar e o empregado disse-me que podia escolher entre as mesas de dois lugares mas indicou-me que poderia ficar na mesa central, que teria uma melhor perspectiva da sala.
E o que se passou a seguir foi eu ter imaginado um jantar, em silêncio, ter pegado no telemóvel para enviar algumas mensagens, ou até ter lido alguma notícia ou alguma coisa sem interesse. Gostaria de ter bebido o vinho enquanto observava os casais à volta, que entretanto chegaram, ou aquele grupo grande de família ou amigos, que se foram abraçando com grandes palmadas nas costas e beijinhos à chegada.
Mas não. 
Ouvi o novo testamento dos três pratos que comi, ouvi a história do restaurante, conheci três empregados diferentes, todos com a missão de não permitir que o meu guardanapo se mandasse ao chão. Veio o gerente saber se estava tudo bem e eu mais parecia uma crítica de comida que ia ali para determinar a estrela michelin do restaurante. E eu só queria jantar, sem que viessem de minuto a minuto garantir que aquele momento não era triste, solitário, tão calmo quanto eu desejava que tivesse sido. E comi maravilhosamente e bebi um vinho do Douro muito bom, mas ninguém foi capaz de me deixar estar ali a jantar, apenas. 





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