janela #5

Saíam quase sempre à mesma hora do que eu. A carrinha de nove lugares, conduzida pela mãe (suponho) esperava que todos tomassem o seu assento. As raparigas altas, de meias até ao joelho e saias plissadas eram as primeiras a entrar. Depois vinham os rapazes, desfraldados, caras de sono, a arrastar as mochilas e de bola de futebol no regaço.
Não me voltei a cruzar com eles. A família numerosa, como atesta o dístico que têm na própria carrinha.
Imagino-os num monte alentejano. Jardim e terreno a perder de vista, onde os rapazes fazem a vida menos pacata aos lagartos, ao cão da casa e ao gato Tobias. As raparigas prosseguem assíduas no estudo, improvisam bolos na cozinha onde se dividem em tarefas na enorme mesa corrida. À tarde saem, descem a encosta da casa a nascente, e regressam uma hora depois com molhinhos de flores do campo.
Não se lembram, sequer, dessas manhãs em que esperavam uns pelos outros na garagem de um prédio de Lisboa, com cheiro a tubo de escape.





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