janela #14

Quando se poisa aquele doirado de luz sobre as gruas das obras em frente é quando eu bebo o café.
Detenho-me no velho casario. Como se viver na cidade não fosse, afinal, a condição actual e o aglomerado de bairros e betão ao fundo, sejam um pedaço de adorno que não faz parte de Lisboa, nem daquilo que chamam a "área metropolitana"
É feriado e tenho uma reunião às nove. Um dia igual ao de ontem e igual ao de amanhã.
Verifico as mensagens e os emails e o que me dizem aqueles que ainda trabalhavam à meia-noite. No final, esperamos todos que o saldo seja positivo ainda que eu já faça o balanço de mim mesma. Insónias, pressão, o esgotamento de toda a informação. Não consigo ler uma notícia mais do que um parágrafo. Aborrecem-me as palavras, as pessoas, aquilo que toda a gente considera como uma lufada de ar fresco, uma novidade eu já estou entendiada e ainda nem abri, li, observei ou admirei. E depois todos aqueles que exigem que sejamos ainda mais zelosos, ainda mais extremosos, cuidadores, dedicados e presentes.
Não consigo. Não quero. Não me apetece. 

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