janela #16

Depois de fechar a casinha do lixo saio na direcção dos prédios de habitação social à procura de saber qual será a música que aquela outra janela faz soar. Entre o tradicional reggaeton e a música popular portuguesa, ainda não fui capaz de perceber em qual das janelas actua o DJ.
Sempre que por ali passo imagino um tiro que me deixará deitada no passeio, junto ao prédio de construção mais recente. Porque é que as balas são quase sempre perdidas? É uma imagem muito aproximada ao sonho que tive em tempos, com o disparo feito do comboio que atravessa o passeio marítimo de Algés. Desde esse sonho e sempre que ia correr para aquela zona e o comboio passava, eu esperava por essa bala.
Viro à direita, vejo que há já uma espécie de parque de estacionamento de carrinhos do supermercado, e reparo que todas as autocaravanas da empresa que opera num dos blocos do meu prédio e que tinha os veículos ali estacionados desapareceram. Segui pelo passeio, agora com um rol de dúvidas acerca daquele esvaziar do parque e mais à frente encontrei-o no mesmo sítio, junto aos chorões árvore que não sei se choram por ele ou não. Fuma charuto e bebe cerveja de lata. E tem sacos de plástico na mão. Está em pé como se esperasse alguém mas creio que não tenha ninguém por esperar. 
E eu acelero o passo, evitando o olhar porque ele tem ar de quem perde muitas balas.

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