janela #18

São as dezasseis e quarenta e sete. Assim, em palavras que os números ferem-me a vista.
Eles correm com as trouxas às costas e cruzam o jardim dos prédios em frente. Não é a primeira vez que os vejo. Saem da obra da qual vejo os avanços há mais de um mês e lutam com os escassos minutos que têm, contra a pontualidade do autocarro que passa nesta rota. Pergunto-me para que ponta dos arredores ou da cidade irão. Quase nunca apanham o autocarro, porque quase nunca aquele sprint é suficiente. Mas nunca os vi em passo demorado ou vagar de cansaço de mais um dia de trabalho. Correm para chegar.
E eu poiso os olhos no computador de novo. Porque a minha corrida é numa estafeta de burocracias, legalidades, cálculos, prazos e muita desorientação.
E afinal, neste tempo que já vai longo, quantas corridas se perderam, quantos autocarros não se apanharam, quantas viagens de comboio ficaram por fazer, quantos voos se perderam, quantos abraços não se deram, quantos beijos se omitiram, quantas visitas se adiaram, quantos passeios se esqueceram, quantas festas se reinventaram, quantos mortos se choraram, quantos livros se escreveram, quantos embargos se fizeram, quantos casamentos se anularam, quantas refeições se preparam...

quantos jardins se cruzaram para esperar novamente?

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