Fartura(s)

 Penso que a terra se chamava Caixeiros. 

Eu olhava de soslaio o espelho interior do carro, a ver se o nariz ia tão vermelho quanto os braços. Ia nesse exercício de evitar franzir o sobrolho porque essa ruga marcada é, também ela, o novo normal. 

Ia, de certo modo, a pensar no dia. Nas arribas douradas e na manhã fresca que acabou por abrir um sol perigoso. A pensar na história que estaria por detrás daquelas rosas postas na arriba, com umas pequenas pedras por cima. Homenagem ou declarações de amor?

Ia nessa retrospectiva triste, cada vez mais vazia, do tempo que preciso de viver à minha maneira. E numa condução nada atenta, na verdade.

Foi quando vi aquela roulloute de farturas naquela espécie de descampado. Lá dentro uma rapariga, de máscara preta no rosto, aguardava os clientes que não tenho ideia de onde pudessem aparecer. Não me lembro se eram as "Farturas da Celeste", ou " Farturas do Oeste", o nome pouco importa.

Naquele calor de Agosto, ali estava ela, mais o óleo a crepitar, à espera que fosse hora de pôr a massa a cair em coroas doiradas. 

Não tem clientes. Não tem sequer pessoas a hesitar comer um churro recheado de morango ou de chocolate. Mas está ali, a velar a tarde de domingo num negócio que, porventura, nunca irá abandonar.


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