[ recobro ]

 Estamos assim, como que à espera que o Zambujo chegue para cantar.

No recobro. Essa palavra  que sempre me lembrou trabalhos em estuque, não sei porquê.
A caminho dos dois anos em distâncias mal medidas, primeiro nas filas para a lei do açambarcamento, depois para a introdução à massa mãe, depois para o vinho antes das oito.
Ainda é difícil esconder o nariz, para muitos. E não conseguimos a imunidade, nem a humanidade e nunca um nadinha de humildade. Humidade, às vezes.
Hoje não cheirava a produtos "Mustela" misturados com um toque de pureza de álcool. Não vi as paredes em tom de rosa, com aquele quadro de bebé gorducho e sorridente que me prendia a atenção. Nem vi a balança forrada com um padrão de bonequinhos onde, certamente, também posei os meus refegos. Dessas memórias muito vagas da vacinação na infância, ficaram, sobretudo, os cheiros e uma caderneta de vacinas presa por um agrafo ferrugento.
Hoje, havia um toque de caril e a supervisão de Ganexa, deus da sorte e da sabedoria. Não houve choro, nenhum medo de agulhas mas sempre um medo tremendo dos dias sem futuro. Ou do futuro nos dias. Da solidão,  do vazio, da frustração,  da auto-consciência,  das maleitas, da desilusão, da não superação, da passagem do tempo e da irreparável perda de cada minuto em que não fazemos, não tentamos, não vamos à procura, não  mudamos. Enfim, não vivemos. E não há vacina para isto.
E o Zambujo, vem ou não vem?

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