Hoje é domingo e há vinte e dois anos que se compra o jornal lá em casa. Poderei dizer, um dia, que terá sido a única coisa boa que fiz por aquela casa. O meu professor de economia do liceu, na altura, disse-me, já não sei a que propósito, que seria um bom hábito e eu convenci a minha mãe a dispensar os escudos para o Jornal de Notícias. Todos os domingos, mesmo aqueles em que não estávamos em casa. Na altura trazia-o o meu pai, da venda da Gabriela e, mais tarde, na sua ausência para sempre, trazia-o o meu irmão, da bomba de gasolina. Ainda hoje é assim. Com o Jornal vinha uma revista, a Notícias Magazine, cuja colecção estimável foi ganhando espaço, até ao dia em que tive de ir pôr tudo ao papelão. Comeram-se as capas pelo bolor e pela humidade da casa e não houve outro remédio. A revista acabou por ser sempre a parte preferida do jornal, tendo em conta que o JN era e é um jornal, na minha opinião, com demasiadas notícias locais votadas à desgraça. O jornal de domingo era, no fim...